2 de julho de 2015

Watchmen – The Deluxe Edition

Alan Moore e Dave Gibbons 


Essa edição maravilhosa é a edição americana de luxo de Watchmen, e foi um presente muito especial de aniversário que ganhei do meu namorado. Para os curiosos ele comprou na Amazon.com e eu não sei quanto custou.

A edição americana é muito mais caprichada que a edição brasileira, publicada pela Panini. Ela tem uma jacket em soft-touch, a folha de guarda é toda amarela, e as folhas de rosto também são muito caprichadas. Ao final de cada capítulo há algumas páginas que imitam publicações da época sobre cada herói (fac-símiles de revistas, jornais, arquivos, etc). As últimas páginas são dedicadas a esboços, arte conceitual, desenvolvimento de personagens e outros sketches.

Antes do primeiro capítulo há um prefácio excepcional escrito pelo ilustrador Gibbons em 2013. Ele explica que tudo começou com Bob Dylan e a canção ‘Desolation Row’, mais precisamente a frase “At Midnight all the agents and the superhuman crew. Come out and round up everyone that knows more than they do” (algo como “À meia-noite todos os agentes e o grupo de super humanos vêm e se juntam, todos que sabem mais do que eles sabem”).

O desenhista explica que quando watchmen surgiu, uma mera ideia, mal formada, em 1985, os quadrinhos eram uma forma de expressão à margem, algo de um nicho muito específico e que a maioria dos críticos desconsiderava, como diversão para crianças e nerds.

Watchmen é um marco na história da HQ americana por quebrar todas essas ideias pré-concebidas e expectativas. Originalmente publicada pela DC em 12 volumes de 1986 a 1987, o quadrinho conta a história de um grupo de super-heróis (na verdade heróis mascarados), que após anos lutando para manter a ordem em Nova York, se veem obrigados a se aposentarem, pois heróis agora são considerados ilegais.


Alguns desses heróis revelam suas identidades e passam a trabalhar para o governo ou para empresas privadas e se tornam milionários. Outros nunca revelam sua identidade e vivem uma vida comum. Apenas um deles continua a atuar, mesmo na ilegalidade. Tudo começa quando o Comediante é assassinado e uma série de investigações leva a crer que os heróis estão sendo eliminados, um por um.

Watchman é marcante pelas suas discussões profundas sobre ética e moral, tanto pessoal quanto cívica, além do seu alto grau de eruditíssimo. Não são poucas as referências à filosofia, literatura, música, artes visuais, psicologia, religião, entre outras áreas do conhecimento humano. Não é de se admirar que o quadrinho tenha ganhado todos os prêmios de sua área como também alguns nas áreas de literatura.

A famosa frase “Who Watches de Watchmen?” é de uma sátira do poeta e retórico romano, Juvenal: “Quis custodiet ipsos custodes”, ou seja “Quem vigia os vigilantes?”. Dessa maneira a história de Alan Moore é um grande questionamento sobre o poder, tanto da política e seus articuladores quanto às outras esferas de vigilância: a mídia, os cidadãos e a própria noção de super-herói incorruptível e acima do bem e do mal.


Wathchmen se passa em um futuro alternativo em que Nixon levou os EUA à vitória contra o Vietnã e está vivendo um momento de tensão extrema na Guerra Fria contra a União Soviética. O clima nas ruas é pesado e toda a história é cheia de desesperança quanto ao futuro, violência e apatia quando ao presente, o que reflete perfeitamente o espírito (ou para ser mais douta, o zeitgeist) daquela época.

Filme x Quadrinho


O filme baseado no quadrinho é de 2009 e foi dirigido por Zach Snyder (300, Batmans vs Superman, Esquadrão Suicida) e está disponível no Netflix. Ele é visualmente muito bem produzido, com frames que lembram ou então são reconstituições exatas dos quadrinhos. Interessante ressaltar que quando Watchmen foi publicado, uma de suas revoluções foi trazer uma montagem de imagens que lembravam os frames do cinema.

Porém, o final do filme tem um elemento completamente diferente do quadrinho. O final da obra cinematográfica é uma saída mais fácil, tanto em termos de roteiro quanto de montagem. Seria difícil filmar o mesmo final do quadrinho, assim como seria bem mais difícil explica-lo para o público.

Na minha opinião o final escrito por Moore é mais impactante e faz as questões morais e éticas serem pensadas ainda mais profundamente. Watchmen é um quadrinho que você precisa ler pelo seu peso no mundo da arte e da comunicação, e se você, como eu, gosta de quadrinhos e cultura pop é uma leitura mais do que essencial.



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